Bioma invisível, ameaças reais ​

A beleza e importância ecológica do Cerrado são subestimadas no Brasil e na agenda ambiental internacional. À margem de ações e políticas que consigam lhe proteger, a floresta invertida é o segundo bioma brasileiro mais ameaçado. O maior desafio está em conciliar o desenvolvimento econômico à conservação do Cerrado e o respeito à história e à tradição de seus habitantes.

Disputada para a produção de alimentos, a savana brasileira possui a maior área de terras agrícolas e de pecuária do Brasil. Em 2019, o país bateu recorde em produção de grãos, com mais de 240 milhões de toneladas, e a previsão para 2021 é ultrapassar mais uma vez os números. O Centro-Oeste, proporcionalmente a região com mais extensão de Cerrado no Brasil, responde sozinho por 47,5% dessa produção. Em 2020, a agropecuária teve 21% de participação total na exportação brasileira, sendo que a soja representa 13,6% dessa fatia.

Os maiores consumidores desta demanda são os países do bloco asiático, juntamente com os Estados Unidos e a União Europeia, o que estimula este tipo de produção no Cerrado brasileiro. No entanto, é preciso avaliar quais impactos esse modelo de desenvolvimento acarreta.

Segundo a organização belga Wervel, a agropecuária feita de forma desordenada transformou 90% da produção agrícola do Bioma em soja e levou 40 milhões de cabeças de gado para o bioma, o que significou graves impactos socioambientais.

O acelerado desmatamento feito nas últimas décadas para a produção agropecuária reduziu a cobertura vegetal do Cerrado a menos de 50% do seu território original. Em 2019, 99% do desmatamento feito no Brasil foi ilegal, estando a savana brasileira entre os biomas mais impactados.

Este modelo de produção significa ainda o agravamento de problemas sociais históricos no Brasil, como a concentração de áreas cultiváveis e de riquezas. Essas questões, muitas vezes, estão relacionadas à grilagem de terras, uma das principais causas da violência contra povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares, como vimos acontecer na comunidade de Dona Lúcia.

E não é só o agronegócio feito de maneira desordenada que ameaça  a vida do e no Cerrado. A degradação do Bioma também está presente no avanço das grandes empresas de mineração, na produção de carvão vegetal nativo e nos incêndios criminosos. Esse conjunto de atividades feitas sem planejamento e de maneira ilegal representa grave ameaça à manutenção dos serviços ecossistêmicos do Cerrado.